sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Receita de Ano Novo - Carlos Drummond Andrade, 1977





Receita de Ano Novo

Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções

para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.



Fonte: Extraído do livro Discurso de primavera e algumas sombras, de 1977. Foi também publicado no Jornal do Brasil", vinte anos depois em dezembro de 1997.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

"Pronominais", um poema de Oswald de Andrade, de 1925


 
Oswald de Andrade inovou
    no estilo de escrita e nos temas abordados


Abaixo um dos mais conhecidos poemas de Oswald de Andrade, um dos líderes do movimento modernista de nossa literatura. O poema faz uma inovação para a época: os versos livres sem rima e sem métrica.

O texto foi extraído do livro "Pau-Brasil", lançado originalmente em 1925, em Paris. Antes porém, foi publicado parcialmente nas páginas do jornal Correio da Manhã, em março de 1924.


PRONOMINAIS

Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Pelé dedicou seu milésimo gol às crianças do Brasil, em 1969



Noite de 19 de novembro de 1969. Maracanã lotado, com um público de 65.157 pagantes que foi assistir ao confronto entre Vasco e Santos, em jogo válido pelo Torneio Roberto Gomes Pedrosa (correspondente ao nosso campeonato brasileiro atual).

Aos 33 minutos do segundo tempo o volante Clodoaldo lançou Pelé dentro da área, que foi derrubado pelo zagueiro do Vasco Renê. Pênalti. Pelé cobra com perfeição no canto esquerdo do goleiro Andrada, de nacionalidade argentina. Andrada, furioso, chega a esmurrar o chão (Off: imagina se o Andrada pega! É festa na Argentina...). O gol deu a vitória de 2 a 1 para o Santos.

Consumada a cobraça do pênalti o estádio "veio abaixo" em emoção e foi inevitável a invasão do gramado pela imprensa esportiva. Até quem não era santista vibrou. Pelé, emocionado, é carregado pelos braços para o centro do campo e pede frente às câmeras: "vamos proteger as criancinhas necessitadas". Simbolicamente, o atleta do século ofertou naquele momento sua obra máxima. E não qualquer obra: o gol, que em nossa cultura traz consigo a força da alegria do povo.  

Posteriormente, Edson Arantes do Nascimento engajou-se em campanhas educacionais tendo, inclusive, enveredado pelo caminho musical ao gravar a conhecida canção "ABC", cujo refrão defende: "toda criança tem que ler e escrever" (ouça em http://bit.ly/cIAF1n)(off: ok gente vamos lá, a intenção foi verdadeiramente sublime).  

Pelé, ídolo das massas, tornou-se também embaixador para Ecologia e Meio ambiente (ONU,1992), embaixador da Boa Vontade (UNESCO,1993), embaixador para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco,1994) e durante o primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso foi Ministro dos Esportes, entre os anos 1995 e 1998.

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Leia abaixo trecho do capítulo IV do livro autobiográfico "Pelé: Minha Vida em Imagens" (Editora Cosac Naify, lançado este ano)

"Corri para a marca, dei uma paradinha, e chutei.

Goooooooool!

Corri direto para o fundo da rede, peguei a bola e dei um beijo nela. O estádio explodiu, com
rojões e aplausos. De repente fui cercado por uma multidão de jornalistas e repórteres. Colocaram
microfones na minha frente e eu então dediquei aquele gol às crianças do Brasil. Disse que
tínhamos de dar atenção para as criancinhas. Comecei, então, a chorar, fui colocado sobre os
ombros de alguém e ergui a bola para o alto. O jogo foi suspenso por vinte minutos, enquanto eu
dava uma volta olímpica. Alguns torcedores do Vasco correram em minha direção e me deram uma
camisa do time com o número 1000. Achei estranho, mas não tive alternativa a não ser vesti-la ali
mesmo.

Por que falei das criancinhas? Naquele dia, era aniversário de minha mãe, então talvez eu devesse
dedicar o gol a ela. Não sei por que não pensei nisso. Mas, diferentemente, na hora, pensei nas
crianças. O que aconteceu foi que me lembrei de um acidente que tinha acontecido em Santos alguns
meses antes. Eu tinha saído do treino um pouco mais cedo e vi alguns garotos tentando roubar um
carro que estava perto do meu. Eram muito pequenos, do tipo para quem se costuma dar um
dinheirinho para tomar conta do carro. Chamei a atenção deles para o que faziam, e eles replicaram
que eu não precisava me preocupar pois só roubariam carros com placas de São Paulo. Mandei-os sair
dali, dizendo que eles não roubariam carro de nenhum lugar. Lembro-me de ter comentado sobre isso,
mais tarde, com um companheiro de time, sobre a dificuldade de se crescer e educar no Brasil. Já
então me preocupava com a questão da educação das crianças, e essa foi a primeira coisa que surgiu
em minha cabeça quando marquei o gol.

Acho que muita gente não entendeu o que eu estava querendo dizer. Fui um pouco criticado, com
pessoas me chamando de demagogo. Achavam que eu não tinha sido sincero. Mas isso não me incomodou.
Acredito ser importante que pessoas como eu mandem mensagens sobre a questão da educação. Não
haverá futuro se você não educar os jovens. Hoje, quando você anda pelo Brasil e vê os problemas
que temos, com gente morando nas ruas e gangues em ação, elas também já foram crianças. Agora
dizem que o Pelé estava certo. Não tenho medo de falar com o coração."




Serviço:

terça-feira, 8 de junho de 2010

Murilo outra vez, em texto de 1947








Murilo Rubião utiliza a personagem do mágico de circo para brincar com o leitor e provocar sua imaginação.




Este é um dos meus contos fantásticos preferidos. Trata-se do texto mais conhecido de Murilo Rubião. No conto, a história de um mágico, ou ex-mágico, muito diferente do comum: um homem entediado e que mal sabe lidar com seus truques aos quais não controla, sua vida em si é uma tragédia mágica... Imperdível. Um passeio pelo melhor estilo do mestre Rubião.



O EX-MÁGICO DA TABERNA MINHOTA



"Inclina, Senhor, o teu ouvido, e ouve-me; porque eu sou desvalido e pobre" -  Salmos. LXXXV, I


Hoje sou funcionário público e este não é o meu desconsolo maior.

Na verdade, eu não estava preparado para o sofrimento. Todo homem, ao atingir certa idade, pode perfeitamente enfrentar a avalanche do tédio e da amargura, pois desde a meninice acostumou-se às vicissitudes, através de um processo lento e gradativo de dissabores.

Tal não aconteceu comigo. Fui atirado à vida sem pais, infância ou juventude.

Um dia dei com os meus cabelos ligeiramente grisalhos, no espelho da Taberna Minhota. A descoberta não me espantou e tampouco me surpreendi ao retirar do bolso o dono do restaurante. Ele sim, perplexo, me perguntou como podia ter feito aquilo.

O que poderia responder, nessa situação, uma pessoa que não encontrava a menor explicação para sua presença no mundo? Disse-lhe que estava cansado. Nascera cansado e entediado.

Sem meditar na resposta, ou fazer outras perguntas, ofereceu-me emprego e passei daquele momento em diante a divertir a freguesia da casa com os meus passes mágicos.

O homem, entretanto, não gostou da minha prática de oferecer aos espectadores almoços gratuitos, que eu extraía misteriosamente de dentro do paletó. Considerando não ser dos melhores negócios aumentar o número de fregueses sem o conseqüente acréscimo nos lucros, apresentou-me ao empresário do Circo-Parque Andaluz, que, posto a par das minhas habilidades, propôs contratar-me. Antes, porém, aconselhou-o que se prevenisse contra os meus truques, pois ninguém estranharia se me ocorresse a idéia de distribuir ingressos graciosos para os espetáculos.

Contrariando as previsões pessimistas do primeiro patrão, o meu comportamento foi exemplar. As minhas apresentações em público não só empolgaram multidões como deram fabulosos lucros aos donos da companhia.

A platéia, em geral, me recebia com frieza, talvez por não me exibir de casaca e cartola. Mas quando, sem querer, começava a extrair do chapéu coelhos, cobras, lagartos, os assistentes vibravam. Sobretudo no último número, em que eu fazia surgir, por entre os dedos, um jacaré. Em seguida, comprimindo o animal pelas extremidades, transformava-o numa sanfona. E encerrava o espetáculo tocando o Hino Nacional da Cochinchina. Os aplausos estrugiam de todos os lados, sob o meu olhar distante.

O gerente do circo, a me espreitar de longe, danava-se com a minha indiferença pelas palmas da assistência. Notadamente se elas partiam das criancinhas que me iam aplaudir nas matinês de domingo. Por que me emocionar, se não me causavam pena aqueles rostos inocentes, destinados a passar pelos sofrimentos que acompanham o amadurecimento do homem? Muito menos me ocorria odiá-las por terem tudo que ambicionei e não tive: um nascimento e um passado.

Com o crescimento da popularidade a minha vida tornou-se insuportável.

Às vezes, sentado em algum café, a olhar cismativamente o povo desfilando na calçada, arrancava do bolso pombos, gaivotas, maritacas. As pessoas que se encontravam nas imediações, julgando intencional o meu gesto, rompiam em estridentes gargalhadas. Eu olhava melancólico para o chão e resmungava contra o mundo e os pássaros.

Se, distraído, abria as mãos, delas escorregavam esquisitos objetos. A ponto de me surpreender, certa vez, puxando da manga da camisa uma figura, depois outra. Por fim, estava rodeado de figuras estranhas, sem saber que destino lhes dar.

Nada fazia. Olhava para os lados e implorava com os olhos por um socorro que não poderia vir de parte alguma.

Situação cruciante.

Quase sempre, ao tirar o lenço para assoar o nariz, provocava o assombro dos que estavam próximos, sacando um lençol do bolso. Se mexia na gola do paletó, logo aparecia um urubu. Em outras ocasiões, indo amarrar o cordão do sapato, das minhas calças deslizavam cobras. Mulheres e crianças gritavam. Vinham guardas, ajuntavam-se curiosos, um escândalo. Tinha de comparecer à delegacia e ouvir pacientemente da autoridade policial ser proibido soltar serpentes nas vias públicas.

Não protestava. Tímido e humilde mencionava a minha condição de mágico, reafirmando o propósito de não molestar ninguém.

Também, à noite, em meio a um sono tranqüilo, costumava acordar sobressaltado: era um pássaro ruidoso que batera as asas ao sair do meu ouvido.

Numa dessas vezes, irritado, disposto a nunca mais fazer mágicas, mutilei as mãos. Não adiantou. Ao primeiro movimento que fiz, elas reapareceram novas e perfeitas nas pontas dos tocos de braço. Acontecimento de desesperar qualquer pessoa, principalmente um mágico enfastiado do ofício.

Urgia encontrar solução para o meu desespero. Pensando bem, concluí que somente a morte poria termo ao meu desconsolo.

Firme no propósito, tirei dos bolsos uma dúzia de leões e, cruzando os braços, aguardei o momento em que seria devorado por eles. Nenhum mal me fizeram. Rodearam-me, farejaram minhas roupas, olharam a paisagem, e se foram.

Na manhã seguinte regressaram e se puseram, acintosos, diante de mim.

— O que desejam, estúpidos animais?! — gritei, indignado.

Sacudiram com tristeza as jubas e imploraram-me que os fizesse desaparecer:

— Este mundo é tremendamente tedioso — concluíram.

Não consegui refrear a raiva. Matei-os todos e me pus a devorá-los. Esperava morrer, vítima de fatal indigestão.

Sofrimento dos sofrimentos! Tive imensa dor de barriga e continuei a viver.

O fracasso da tentativa multiplicou minha frustração. Afastei-me da zona urbana e busquei a serra. Ao alcançar seu ponto mais alto, que dominava escuro abismo, abandonei o corpo ao espaço.

Senti apenas uma leve sensação da vizinhança da morte: logo me vi amparado por um pára-quedas. Com dificuldade, machucando-me nas pedras, sujo e estropiado, consegui regressar à cidade, onde a minha primeira providência foi adquirir uma pistola.

Em casa, estendido na cama, levei a arma ao ouvido. Puxei o gatilho, à espera do estampido, a dor da bala penetrando na minha cabeça.

Não veio o disparo nem a morte: a máuser se transformara num lápis.

Rolei até o chão, soluçando. Eu, que podia criar outros seres, não encontrava meios de libertar-me da existência.

Uma frase que escutara por acaso, na rua, trouxe-me nova esperança de romper em definitivo com a vida. Ouvira de um homem triste que ser funcionário público era suicidar-se aos poucos.

Não me encontrava em condições de determinar qual a forma de suicídio que melhor me convinha: se lenta ou rápida. Por isso empreguei-me numa Secretaria de Estado.

1930, ano amargo. Foi mais longo que os posteriores à primeira manifestação que tive da minha existência, ante o espelho da Taberna Minhota.

Não morri, conforme esperava. Maiores foram as minhas aflições, maior o meu desconsolo.

Quando era mágico, pouco lidava com os homens -o palco me distanciava deles. Agora, obrigado a constante contato com meus semelhantes, necessitava compreendê-los, disfarçar a náusea que me causavam.

O pior é que, sendo diminuto meu serviço, via -me na contingência de permanecer à toa horas a fio. E o ócio levou -me à revolta contra a falta de um passado. Por que somente eu, entre todos os que viviam sob os meus olhos, não tinha alguma coisa para recordar? Os meus dias flutuavam confusos, mesclados com pobres recordações, pequeno saldo de três anos de vida.

O amor que me veio por uma funcionária, vizinha de mesa de trabalho, distraiu-me um pouco das minhas inquietações.

Distração momentânea. Cedo retornou o desassossego, debatia-me em incertezas. Como me declarar à minha colega? Se nunca fizera uma declaração de amor e não tivera sequer uma experiência sentimental!

1931 entrou triste, com ameaças de demissões coletivas na Secretaria e a recusa da datilógrafa em me aceitar. Ante o risco de ser demitido, procurei acautelar meus interesses. (Não me importava o emprego. Somente temia ficar longe da mulher que me rejeitara, mas cuja presença me era agora indispensável.)

Fui ao chefe da seção e lhe declarei que não podia ser dispensado, pois, tendo dez anos de casa, adquirira estabilidade no cargo.

Fitou-me por algum tempo em silêncio. Depois, fechando a cara, disse que estava atônito com meu cinismo. Jamais poderia esperar de alguém, com um ano de trabalho, ter a ousadia de afirmar que tinha dez.

Para lhe provar não ser leviana a minha atitude, procurei nos bolsos os documentos que comprovavam a lisura do meu procedimento. Estupefato, deles retirei apenas um papel amarrotado — fragmento de um poema inspirado nos seios da datilógrafa.

Revolvi, ansioso, todos os bolsos e nada encontrei.

Tive que confessar minha derrota. Confiara demais na faculdade de fazer mágicas e ela fora anulada pela burocracia.

Hoje, sem os antigos e miraculosos dons de mago, não consigo abandonar a pior das ocupações humanas. Falta-me o amor da companheira de trabalho, a presença de amigos, o que me obriga a andar por lugares solitários. Sou visto muitas vezes procurando retirar com os dedos, do interior da roupa, qualquer coisa que ninguém enxerga, por mais que atente a vista.

Pensam que estou louco, principalmente quando atiro ao ar essas pequeninas coisas.

Tenho a impressão de que é uma andorinha a se desvencilhar das minhas mãos. Suspiro alto e fundo.

Não me conforta a ilusão. Serve somente para aumentar o arrependimento de não ter criado todo um mundo mágico.

Por instantes, imagino como seria maravilhoso arrancar do corpo lenços vermelhos, azuis, brancos, verdes. Encher a noite com fogos de artifício. Erguer o rosto para o céu e deixar que pelos meus lábios saísse o arco-íris. Um arco-íris que cobrisse a Terra de um extremo a outro. E os aplausos dos homens de cabelos brancos, das meigas criancinhas.



Fonte: O ex-mágico. Rio de Janeiro: Editora Universal, 1947.


quinta-feira, 3 de junho de 2010

Boris Fausto fala da redemocratização, documentário História do Brasil, de 2002



Recorte do documentário História do Brasil, 2002, com o historiador Boris Fausto falando sobre o período da redemocratização no Brasil.

"É possível fazer a história do presente e do quase presente, isto é, de coisas que aconteceram há pouco tempo. A história imediata. Isto aproxima o historiador de um tipo de jornalismo e, deste modo, têm mais peso suas opiniões, experiências de vida e paixões". (Boris Fausto, 2002)

"A Flor de Vidro" - conto de Murilo Rubião,1965






Contista nasceu em Minas Gerais,
na cidade de Carmo de Minas.


Murilo Rubião, mestre do conto fantástico, um dos maiores autores da literatura brasileira. Sua obra contém suspense, tragédia, humor, ironia.  Aos publicitários:  Murilo é fonte inspiradora de criatividade.


A FLOR DE VIDRO


“E haverá um dia conhecido do Senhor que não será dia nem noite, e na tarde desse dia aparecerá a luz.” – Zacarias, XIV, 7.

Da flor de vidro restava somente uma reminiscência amarga. Mas havia a saudade de Marialice, cujos movimentos se insinuavam pelos campos — às vezes verdes, também cinzentos. O sorriso dela brincava na face tosca das mulheres dos colonos, escorria pelo verniz dos móveis, desprendia-se das paredes alvas do casarão. Acompanhava o trem de ferro que ele via passar, todas as tardes, da sede da fazenda. A máquina soltava fagulhas e o apito gritava: Marialice, Marialice, Marialice. A última nota era angustiante.

— Marialice!

Foi a velha empregada que gritou e Eronides ficou sem saber se o nome brotara da garganta da Rosária ou do seu pensamento.

— Sim, ela vai chegar. Ela vai chegar!

Uma realidade inesperada sacudiu-lhe o corpo com violência. Afobado, colocou uma venda negra na vista inutilizada e passou a navalha no resto do cabelo que lhe rodeava a cabeça.

Lançou-se pela escadaria abaixo, empurrado por uma alegria desvairada. Correu entre aléias de eucaliptos, atingindo a várzea.

Marialice saltou rápida do vagão e abraçou-o demoradamente:

— Oh, meu general russo! Como está lindo!

Não envelhecera tanto como ele. Os seus trinta anos, ágeis e lépidos, davam a impressão de vinte e dois — sem vaidade, sem ânsia de juventude.

Antes que chegassem a casa, apertou-a nos braços, beijando-a por longo tempo. Ela não opôs resistência e Eronides compreendeu que Marialice viera para sempre.

Horas depois (as paredes conservavam a umidade dos beijos deles), indagou o que fizera na sua ausência.

Preferiu responder à sua maneira:

— Ontem pensei muito em você.

A noite surpreendeu-os sorrindo. Os corpos unidos, quis falar em Dagô, mas se convenceu de que não houvera outros homens. Nem antes nem depois.

As moscas de todas as noites, que sempre velaram a sua insônia, não vieram.

Acordou cedo, vagando ainda nos limites do sonho. Olhou para o lado e, não vendo Marialice, tentou reencetar o sono interrompido. Pelo seu corpo, porém, perpassava uma seiva nova. Jogou-se fora da cama e encontrou, no espelho, os cabelos antigos. Brilhavam-lhe os olhos e a venda negra desaparecera.

Ao abrir a porta, deu com Marialice:

— Seu preguiçoso, esqueceu-se do nosso passeio? Contemplou-a maravilhado, vendo-a jovem e fresca. Dezoito anos rondavam-lhe o corpo esbelto. Agarrou-a com sofreguidão, desejando lembrar-lhe a noite anterior. Silenciou-o a convicção de que doze anos tinham-se esvanecido.

O roteiro era antigo, mas algo de novo irrompia pelas suas faces. A manhã mal des-pontara e o orvalho passava do capim para os seus pés. Os braços dele rodeavam os ombros da namorada e, amiúde, interrompia a caminhada para beijar-lhe os cabelos. Ao se aproximarem da mata — termo de todos os seus passeios — o sol brilhava intenso. Largou-a na orla do cerrado e penetrou no bosque. Exasperada, ela acompanhava-o com dificuldade:

— Bruto! Ó bruto! Me espera!

Rindo, sem voltar-se, os ramos arranhando o seu rosto, Eronides desapareceu por entre as árvores. Ouvia, a espaços, os gritos dela:

— Tomara que um galho lhe fure os olhos, diabo!

De lá, trouxe-lhe uma flor azul.

Marialice chorava. Aos poucos acalmou-se, aceitou a flor e lhe deu um beijo rápido. Eronides avançou para abraçá-la, mas ela escapuliu, correndo pelo campo afora.

Mais adiante tropeçou e caiu. Ele segurou-a no chão, enquanto Marialice resistia, puxando-lhe os cabelos.

A paz não tardou a retornar, porque neles o amor se nutria da luta e do desespero.

Os passeios sucediam-se. Mudavam o horário e acabavam na mata. Às vezes, pensando ter divisado a flor de vidro no alto de uma árvore, comprimia Marialice nos braços. Ela assustava-se, olhava-o silenciosa, à espera de uma explicação. Contudo, ele guardava para si as razões do seu terror.

O final das férias coincidiu com as últimas chuvas. Debaixo de tremendo aguaceiro, Eronides levou-a à estação.

Quando o trem se pôs em movimento, a presença da flor de vidro revelou-se imediatamente. Os seus olhos se turvaram e um apelo rouco desprendeu-se dos seus lábios.

O lenço branco, sacudido da janela, foi a única resposta. Porém os trilhos, paralelos, sumindo-se ao longe, condenavam-no a irreparável solidão.

Na volta, um galho cegou-lhe a vista.



Fonte: RUBIÃO, MURILO. A Flor de Vidro. In O Pirotécnico Zacarias. 16ª ed. São Paulo, Ática, 1993.

Conheça http://www.murilorubiao.com.br/.

"A felicidade está ligada à expressão de valores através da ação", entrevista com Eduardo Gianetti, em 2005



Prof. Eduardo Gianetti da Fonseca


Desde o final da década de 70, época em que estudava Economia na USP (onde se formou) e se sentia atraído pelas aulas de Filosofia na Faculdade de Ciências Sociais (onde também se graduou, em 1980), Eduardo Giannetti da Fonseca, PhD em Economia pela Universidade de Cambridge (Inglaterra), se debruça sobre a questão da "Felicidade". E tem dedicado muito do seu tempo para mostrar a diferentes públicos que ela é um dos ingredientes principais do sucesso, "não só do indivíduo, como também das organizações empresariais". Casado, pai de um filho e autor consagrado - escreveu sucessos como "Auto-Engano", traduzido em cinco línguas, inclusive japonês, e, claro, "Felicidade" - Giannetti faz questão de lembrar que a Economia surgiu prometendo ao Homem a "Felicidade". "Ela é um instrumento que deveria liberar o homem para perseguir fins primordiais como a realização, a felicidade e a criação", salienta.

O tema de seu próximo livro também não poderia ser mais atual - "Abordagem Filosófica sobre os Juros" deverá estar nas livrarias até o final do ano. Giannetti concedeu uma entrevista especial ao Monsanto Em Campo para, mais uma vez, mostrar que "Felicidade" e Sucesso são duas faces da mesma e única moeda.


É possível definir felicidade?

Cada ser humano tem o seu sonho e a sua noção própria do que é melhor para a sua vida. Não tenho a pretensão de responder em nome de outras pessoas, apenas a de contribuir para organizar a maneira como as pessoas pensam a sua felicidade.


Qual a diferença entre estar feliz e ser feliz?

Estar feliz é um sentimento, pré-reflexivo, é alegria, contentamento, uma sensação de bem-estar. Ser feliz é uma avaliação acerca de um caminho, de um plano de vida, envolvendo análise do caminho da existência no tempo em muitas dimensões - afetiva, profissional, espiritual.


Qual a importância da felicidade para a realização profissional e para o sucesso da empresa?

Aristóteles já dizia que o prazer aperfeiçoa a atividade. Há uma dinâmica de retro-alimentação já que, ao fazer o que gosta, a pessoa se aperfeiçoa continuamente. E isso se aplica não só ao indivíduo, à atividade individual prazerosa, mas também ao clima organizacional - que tem de ser satisfatório, abrir espaço para a realização e para o contentamento.

Com o começo da realização de estudos empíricos sobre o bem-estar subjetivo nos anos 90, a grande novidade que veio à tona é que as pessoas que se sentem bem, trabalham melhor; pessoas que se dizem felizes faltam menos ao trabalho. E uma grande descoberta foi a de que o consumo não satisfaz a busca da "Felicidade". A "Felicidade" está ligada à ação - por meio da qual as pessoas mostram seus valores e sua criatividade. Isso, na ótica da pessoa. Na ótica da empresa, a "Felicidade" permite mobilizar o que de melhor as pessoas têm.


Como as empresas podem proporcionar esse clima organizacional favorável?

Há uma série de fatores que podem contribuir para isso. O respeito pelo outro - e pelo tempo do outro - é um deles. As pessoas têm tempos diferentes, inclusive de maturação. E é preciso pensar o porquê da tecnologia (e-mails coletivos, Internet, etc) não estar proporcionando, como deveria, mais tempo para as pessoas. Não estamos "domando" a tecnologia e sim acelerando o tempo sem redundar em qualidade de vida e trabalho.

Uma das grandes urgências deveria ser, justamente, a de classificar corretamente a "urgência" de tarefas. Outro fator relevante é a confiança interpessoal - uma variável de primeira ordem. Todos estão no mesmo time, e o sucesso de um não pode depender da destruição do outro. É um erro estimular a competição destrutiva.


Quais os prejuízos decorrentes do trabalho "alienado"?

A felicidade está ligada à ação, à expressão de valores através da ação. Para a empresa, o trabalho alienado não é um bom negócio. E torna a vida do indivíduo, do funcionário, um verdadeiro tormento - ele não reage, não produz, não cria, não desenvolve seus talentos. O mundo atual, com enorme competição e mudanças tecnológicas constantes e rápidas, exige o que de melhor a pessoa tem em recursos humanos e conhecimento. Da mesma forma que a pessoa precisa se sentir integrada ao mundo, o membro de uma organização precisa se sentir integrado - caso contrário não mobiliza o que conhece. O trinômio trabalho/eficiência/realização profissional depende disso.


A realização pessoal é fundamental para o sucesso da organização?

No pós-guerra, pesquisas feitas por economistas, estimando a importância do capital humano (talento aprimorado pela educação) para o desenvolvimento e competitividade empresarial, mostraram que o capital humano (talento) e o investimento na qualificação são fundamentais para o sucesso. A eficiência e a mobilização dos talentos dispersos na empresa podem resultar nos ganhos de produtividade que farão a diferença nos resultados globais da empresa. A produtividade (relação insumo/produto) está crescendo 3,5% ao ano, o que leva uma empresa a dobrar de tamanho em 20 anos. Se as pessoas, felizes, fazem um esforço maior, e essa produtividade melhora para 5% ao ano, a empresa pode dobrar de tamanho em 14 anos. A empresa também tem que dar espaço para a realização dos valores das pessoas.

Em síntese: a realização plena das pessoas no mundo do trabalho tornou-se uma exigência econômica de um mundo altamente competitivo e com mudanças tecnológicas rápidas e constantes. Conclusão: há uma convergência entre as necessidades das pessoas e das empresas.


Como líderes de pessoas devem agir?

O líder tem de ter humildade, aprender e desejar continuar a aprender. Tem de saber ouvir, lidar com situações. Tem de saber que vai errar e ter capacidade de aprender com o erro. A grande capacidade do líder é a de aprender com a falha. O dom do líder é o de mobilizar o que de melhor existe em cada um para oferecer para a organização.


Qual o maior desafio na gestão de pessoas?

Colocar a pessoa certa no lugar certo. Existe pluralidade de talentos entre as pessoas e é preciso encontrar o espaço adequado para cada uma delas. O maior desafio é permitir que ela encontre seu espaço dentro das funções pré-definidas. A função do líder é fazer a pessoa revelar, a si própria e aos outros, o que ela tem de melhor. Para isso, ele tem de ser capaz de ver, de descobrir o potencial e os talentos das pessoas. Não é simples. O líder tem de ter a percepção de onde a pessoa pode encontrar a sua realização e não "dar exemplo a ser seguido" de felicidade.


Fonte: http://www.monsanto.com.br/monsanto/brasil/newsletter/geral/03_2005maio/edi01_noticia_afelicidade.asp

Debate entre José Aníbal-PSDB e Wellington Dias-PT, 2o. Turno 2002


Ouça abaixo o áúdio do debate ocorrido entre José Anibal e Wellington Dias, na rádio CBN , em 24 de outubro de 2002, em meio ao 2o. turno da eleição presidencial daquele ano. Na mediação, o brilhante jornalista Heródoto Barbeiro.



O Deputado Federal José Anibal, então presidente do PSDB, critica o "promessismo" do PT. Wellington Dias, a época governador eleito do Piauí diz que Lula é quem "mais conhece o Brasil".

Perceba que o discurso de Aníbal tem elementos do atual discurso de Serra para as eleições de outubro próximo, como "fazer mais", "criação do ministério da segurança pública". Aníbal expõe um discurso técnico e crítico às posturas históricas do PT.

Já Wellington, faz uma fala voltada para o emocional, ressaltando a legitimidade de Lula para fazer as "mudanças".

A histórica disputa da razão vs. emoção, presente na polarização PSDB vs. PT permanece ainda hoje em nossa política.

Fonte: http://cbn.globoradio.globo.com/grandescoberturas/ELEICOES-PRESIDENCIAIS-2002.htm#

domingo, 30 de maio de 2010

Marketing no Brasil', por Marcos Cobra,2003


Um resumo do percurso do Marketing brasileiro
(extraído da introdução do livro do Professor Marcos Cobra – Administração de Marketing no Brasil. Cobra Editora 2003).

A origem do marketing.

A expressão anglo-saxônica Marketing, deriva do latim “mercare”, que definia o ato de comercializar produtos na antiga Roma. Enquanto tudo o que se produzia era vendido, ou melhor, era comprado, não havia a necessidade de um esforço adicional de vendas e, portanto, o Marketing era desnecessário. Somente no século passado constatou-se a necessidade do Marketing... Tanto que ele foi criado. Onde? No coração do capitalismo, nos EUA, na década de 40. E de lá para cá, ninguém conseguiu fazer mais sucesso do que eles, os americanos, pelo menos nesta área.

O marketing vem evoluindo da soberania do produto, para a soberania do cliente.

“Marketing é uma forma de sentir as oportunidades de mercado e desenvolver produtos e serviços”.

Há quatro eras na história de marketing

1. A era da produção. Até meados de 1925, muitas empresas nas economias mais desenvolvidas do Oeste Europeu e dos Estados Unidos estavam orientadas pela produção. Não havia preocupação com a venda, uma vez que praticamente tudo que se produzia era vendido. Não havia preocupação com vendas e marketing não existia.
2. A era da venda. Entre 1925 e o início dos anos 50, as técnicas de produção já estavam dominadas, e na maioria das nações desenvolvidas, a preocupação era com o escoamento dos excedentes de produção. Uma empresa com orientação para vendas era aquela que assumia que os consumidores iriam resistir em comprar bens e serviços que não julgassem essenciais. Para subsidiar o trabalho dos vendedores, as empresas começam a anunciar seus produtos, na expectativa de que os consumidores abririam suas portas para receber os vendedores, principalmente os de venda domiciliar, como aspiradores de pó Electrolux, cosméticos Avon, carnê do Baú da Felicidade, enciclopédia, listas telefônicas e tantos outros produtos e serviços.
3. A era do marketing. Após a segunda guerra mundial, surge nos Estados Unidos a explosão da população denominada “baby boomer”, ou seja, com a volta dos soldados da 2ª.guerra mundial, nascem muitas crianças, fato esse animador do mercado de: fraldas, alimentos infantis, medicamentos, roupas, brinquedos etc. Logo após há uma outra explosão de teenagers – adolescentes ávidos de consumo de som, roupas, comida e uma parafernália de produtos e serviços.
4. A era do marketing digital. A Internet e o comércio eletrônico que veio na sua esteira estão mudando os hábitos de comunicação e consumo. Se consumo praticamente de tudo a partir do computador, de serviços de turismo, a compras de supermercado, roupas, eletro-eletrônicos, roupas, livros, discos enfim de tudo. É o e-ticket substituindo passagens aéreas, e inúmeros outros serviços, como vouchers de hotéis, ingresso para espetáculos musicais e teatrais, etc.


As escolas pioneiras

Quando a pioneira Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas, em 1954, introduziu o conceito de marketing, o fez segundo o Professor Dílson Gabriel dos Santos acompanhada da Faculdade de Administração e Economia da Universidade S.Paulo o fez aportuguesando a expressão para “mercadologia”. Com o passar dos anos, no entanto, a palavra em inglês ganhou força e a própria EAESP acabou abandonando o neologismo e adotou o termo inglês para a disciplina que estuda as complexas relações entre consumidores e produtores de bens e serviços. Isso aconteceu no final dos anos 90.

No Brasil da década de 50, não havia ainda profissionais de Marketing. Os profissionais responsáveis por vendas faziam parte dos departamentos comerciais das empresas. Somente após a criação da EAESP da Fundação Getúlio Vargas e com os esforços de duas outras escolas também pioneiras, a Escola Superior de Propaganda, hoje ESPM, Escola Superior de Propaganda e Marketing, e a Escola Superior de Negócios do Padre Sabóia, é que as funções de pesquisa de mercado e gerência de produtos começam a ser valorizadas, deixando de ser apenas temas importantes nos currículos acadêmicos e ganhando status de gerência nas organizações industriais e comerciais.


As empresas pioneiras

Do lado empresarial, algumas empresas multinacionais como Gessy, denominada, a partir da década de 50, Gessy-Lever, a Refinações de Milho Brasil, a Johnson & Johnson, a Kibon e algumas outras começam a introduzir em seus organogramas a função de Gerente de Produto. A expressão Marketing já era de uso dessas empresas mas o acesso aos organogramas somente aconteceu a partir dos anos 60, mesmo assim, ainda como função de staff.

O todo poderoso do mercado ainda era o Gerente Comercial. Mas os anos 70 foram marcantes para o Marketing brasileiro e os profissionais formados pela EAESP–FGV começaram a assumir postos de mando na área de Marketing na Hublein, na Souza Cruz, na Kibon, na Lever, na Johnson & Johnson, na Refinações de Milho Brasil e outras empresas pioneiras na implantação de Administração de Marketing.


A adoção do conceito de marketing no Brasil

Com a maior projeção da ESPM, que antes abrigava sobretudo profissionais da área de propaganda, e com a força da EAESP e da FEA da USP, é que o Marketing no Brasil ganha expressão. Hoje, na presidência das principais empresas que atuam no Brasil, estão profissionais formados em administração de empresas com carreira em Marketing.

Surgiram então os professores pioneiros como Polia Lerner Hamburger, Orlando Figueiredo, Raimar Richers, Haroldo Bariani, Affonso Cavalcanti de Albuquerque Arantes, Alberto de Oliveira Lima, Gustavo de Sá e Silva e Bruno Guerreiro (que deixou de ser locutor do Repórter Esso para seguir a carreira acadêmica), pelo lado da EAESP da FGV; a FEA- Faculdade de Economia e Administração da USP contou com Dílson Gabriel dos Santos, Marcos Campomar, Alexandre Berendt, Geraldo Luciano Toledo; e ainda Roberto Duailibi, Otto Scherb, José Roberto Witaker Penteado, Aylza Munhoz entre outros, capitaneados na ESPM pelo Professor Francisco Gracioso.

É sobretudo graças ao esforço dessa plêiade de professores missionários, os lembrados e tantos outros que a memória não alcançou, que o Marketing no Brasil é o que é hoje. O Marketing deixou de ser tabu e chegou a uma multiplicidade de áreas - sociais, políticas, religiosas, de saúde, de cultura, de esportes - enfim, até onde a criatividade permite.


A propaganda brasileira

A propaganda brasileira é uma das mais criativas do mundo e o Marketing no Brasil, que se espelha em uma realidade de um país em crescimento acelerado, é hoje fonte de referencia mundial para a disseminação da cultura e do conhecimento mercadológico.

Vale então lembrar que a força criativa da propaganda brasileira deu forças às asas do Marketing no Brasil. Profissionais pioneiros como Milton Luz, e fundamentais como Roberto Duailibi, Alex Pericinoto, Mauro Salles, Geraldo Alonso, Renato Castelo Branco Rino Ferrari, Marcio Moreira – internacionalmente – Petrônio Correia e tantos outros. E mais recentemente, Júlio Ribeiro, Washington Olivetto, Nisan Guanaes, Eduardo Fisher, Stalimir, Roberto Justus, Afonso Serra, Agnelo Pacheco, Flávio Correia, Sergio Amato,Cristina Carvalho Pinto, Flavio Conte, Petit, Zaragoza e tantos outros que tem tornado a propaganda brasileira das mais admiradas e valorizadas

Compreender o comportamento do consumidor, entender as técnicas de pesquisa de mercado, de gerenciamento de produtos e de clientes, de administração da distribuição e logística são apenas alguns dos temas que, associados à propaganda tornam o Marketing um prato saboroso para ser degustado em assuntos sociais e profissionais.


O Marketing na América Latina

Na Argentina, a área de administração de empresas levou um tempo maior para ser definitivamente aceita, mas a Mercadotecnia do Professor Alberto Levy sempre teve ampla aceitação e prática, sendo ele hoje uma personalidade do marketing latino-americano, com mais de 40 livros editados sobre o tema Marketing e Estratégia.

Hoje o México se rivaliza com o Brasil em termos de melhores escolas de administração de empresas e de Marketing, sendo que a Universidade de Monterrey, segundo a revista América Economia, registra um desempenho que em alguns anos superou a nossa EAESP – da FGV no ranking de 1ª. Escola da América Latina, sobretudo com a Escuela de Marketing de Servicios, coordenada por Javier Renoso.


A literatura de marketing no Brasil

A grande força do marketing atual é resultado também do apoio da mídia de negócios como Exame, Gazeta Mercantil, Carta Capital, Valor Econômico, e outras da mídia especializada como: Editora Referencia – caderno Propaganda & Marketing, Marketing, Revista Propaganda, Mercado Global, Revista About, Revista Meio & Mensagem.


Livros indicados

Dentre os livros texto de marketing mais indicados para uso nos cursos de administração, destacavam-se os seguintes títulos, segundo, pesquisa realizada pela ANGRAD – Associação Nacional dos Cursos de Graduação em Administração, em 2001, apareceram:




Dos livros pioneiros de marketing editados no Brasil de autores brasileiros destacam-se:

- Editado pela Fundação Getúlio Vargas: Mercadologia. Professores fundadores da EAESP – FGV, sob coordenação do Professor Raimar Richers;

- Editado pela Fundação Getúlio Vargas: Administração Mercadológica. Professor Raimar Richers e outros professores da EAESP-FGV;

- Editado pela Atlas: Marketing Básico. Roberto Simões.

Como se observa, a Editora da Fundação Getúlio Vargas e os professores da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da FGV foram pioneiros na introdução da literatura de marketing no Brasil. E a Editora Atlas, uma das primeiras editoras brasileiras a se preocupar com a área de Marketing é a que mais títulos tem editado entre os livros indicados.
 
O Marketing no Brasil ganhou força e expressão mais ainda é um assunto de predomínio de literatura norte-americana. Na Argentina, há um melhor equilíbrio no uso de literatura de administração européia, norte-americana e argentina.

Portanto, nós, autores brasileiros de marketing, precisamos deixar de lado a baixa auto-estima e acreditar que o estudo do comportamento do consumidor, das técnicas de pesquisa de mercado, da propaganda e de outras áreas de conhecimento aplicados ao marketing pode ter uma melhor divulgação pela sua elevada aplicabilidade.

Se a propaganda brasileira e o marketing aplicado no Brasil são reconhecidos mundialmente como sendo da melhor qualidade, é preciso que os nossos professores e profissionais de Marketing deixem a timidez de lado e... publiquem!

domingo, 16 de maio de 2010

Baden Powell, 1967 - Guitar Festival Workshop, Berlim



Baden Powell de Aquino nasceu em Varre-e-Sai, em 6 de agosto de 1937 e faleceu no Rio de Janeiro em 26 de setembro de 2000. Seu pai era um grande entusiasta do escotismo e deu ao filho o nome em homenagem ao Barão inglês Robert Baden-Powell. Sua família se mudou para o Rio de Janeiro quando ele tinha apenas 3 anos e Baden começou a estudar violão clássico desde cedo.

Ele estudou com Meira (Jayme Florence) e logo se revelou um prodígio no instrumento. O que Baden fez pelo violão brasileiro não tem preço. Ele trabalhou apaixonadamente por mais de 40 anos e viveu na França e na Alemanha por muito tempo.

Seu estilo agressivo e único de tocar influenciou dezenas de outros violonistas e sua influência continua se fazendo presente mesmo entre as gerações mais novas. Baden era excelente como instrumentista, compositor e arranjador. Algumas de suas músicas ganharam letras escritas por poetas famosos como Vinícius de Moraes e Billy Blanco e se tornaram sucessos imortais, como Samba Triste, Berimbau e Samba em Prelúdio, as quais continuam sendo gravadas por muitos cantores e violonistas de hoje.

Fonte: http://brazilianguitar.net/index.php?showtopic=81

Um pouco mais de Bresser-Pereira, TV Cultura/2008

1a. Parte da entrevista concedida por Luiz Carlos Bresser-Pereira a Antônio Abujamra, no programa "Provocações" da TV Cultura.

20 anos de democracia, artigo de Bresser-Pereira publicado em 03/04/2005

Artigo do economista Bresser-Pereira, uma grande referência em se tratando do pensamento econômico nacional. Além de acadêmico com vasta produção e professor da FGV-SP, Bresser foi ministro duas vezes, nos governos dos presidentes José Sarney e Fernando Henrique Cardoso. Este artigo de 2005 continua bastante atual.


20 anos de democracia
LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA


O Brasil completou 20 anos de democracia. De uma democracia que foi o resultado de uma grande luta de toda a sociedade brasileira. Surgem, agora, algumas perguntas: além de mais liberdade, trouxe-nos, a democracia, mais justiça? Foi retomado o desenvolvimento que se interrompera em 1980? Consolidou-se a própria democracia?

As respostas às duas primeiras questões são negativas. As desigualdades não se acentuaram -em razão, provavelmente, de um aumento substancial do gasto social-, mas o processo de concentração de renda não foi revertido. Quanto ao crescimento, sabemos que não aconteceu. Os assalariados, especialmente os pobres, não melhoraram seus rendimentos reais, e a renda por habitante, que antes crescia a quase 4% ao ano, nestes últimos 25 anos cresceu menos de 1% ao ano.

A democracia, entretanto, consolidou-se. Sobrevieram crises graves, como a alta inflação, o impeachment de Collor, o escândalo dos anões do Orçamento, crises financeiras -mas a democracia se fortaleceu. Em nenhum momento se pensou que a volta a um sistema autoritário poderia ser uma solução. Nesse processo, porém, verificou-se na democracia brasileira uma paradoxal tendência à diminuição do espaço de escolhas -uma diminuição semelhante àquela que ocorre nas democracias maduras. Nestas, a alternância de poder não é traumática porque existem na sociedade consensos suficientes para que os partidos, que convergem para o centro nas eleições, afinal exibam plataformas políticas muito semelhantes. A diferença entre a esquerda e a direita continua real, mas é pequena.

Ora, o mesmo fenômeno parece estar ocorrendo no Brasil. Embora o povo tenha votado em Lula porque queria mudança, esta afinal não ocorreu. Embora o novo governo seja apenas uma tentativa de cópia do anterior, nem por isso o presidente se desmoralizou e perdeu o apoio dos eleitores. Parece que estes, embora querendo a mudança, reconhecem a dificuldade, e por isso admitem que um partido de oposição
vença as eleições mas nada mude.

O paradoxo da situação está no fato de que no Brasil não existe o relativo consenso que caracteriza as sociedades mais desenvolvidas, especialmente as européias. Nelas, os consensos são possíveis porque o nível de igualdade econômica e social entre as pessoas é grande e porque esses países vivem situações de normalidade econômica e política, experimentando um aumento constante de seus padrões de vida. Nesse tipo de sociedade não há necessidade de decisões fundamentais, e os governos não fazem tanta diferença. Cada nação já conta com um Estado forte, dotado de instituições legitimadas pela sociedade.

Em contraste, no Brasil continuamos a viver tempos anormais, de insegurança, de altas taxas de juros e de quase-estagnação econômica. E não existem consensos razoáveis sobre a natureza de nossos problemas nem sobre como os resolver. Inclusive porque perdemos a capacidade de pensar com a cabeça própria, e estamos sempre esperando que a orientação venha de fora.

Em um quadro como esse, o país precisa, dramaticamente, de bom governo. De governo com visão dos grandes problemas nacionais e com coragem para os enfrentar. Um governo que não partiria do zero, porque o Brasil já conta com um empresariado competente, com uma classe média diversificada, com trabalhadores crescentemente qualificados e já dispõe de um Estado com pessoal e instituições razoavelmente efetivas. Mas há um mar de ações a serem tomadas para que o país possa voltar a pensar por conta própria, ter uma estratégia nacional de desenvolvimento e voltar a crescer. E não há garantia de que possamos ter o bom governo necessário para isso.

A própria democracia, entretanto, nos oferece a saída. É a de chegarmos, nós mesmos, a consensos sobre a natureza de nossos problemas através do debate público. Uma das grandes vantagens da democracia reside exatamente nessa sua capacidade de produzir consensos. Não se trata de uma tarefa fácil, mas é viável,
porque a democracia realmente existe no Brasil. Já não é mais uma simples democracia de elites, na qual o povo entra apenas como figurante, mas é uma democracia de opinião pública, na qual os políticos não têm alternativa senão prestar atenção no que essa opinião diz. E já há nela elementos participativos e republicanos razoáveis, que mostram que a cidadania vai deixando de ser mera retórica.

A democracia brasileira nos oferece, portanto, a oportunidade do consenso sobre como retomar o desenvolvimento, como absorver a mão-de-obra excedente e como reduzir os diferenciais de renda. Esses consensos hoje são poucos e débeis. No momento em que, nos quadros da democracia, materializarem-se e ganharem substância, os governos passarão a agir de acordo com eles. E assim os verdadeiros problemas do país passarão a ser enfrentados.

Seremos capazes de aproveitar essa oportunidade? Sou otimista a respeito, mas a resposta real a esta questão dependerá do espírito republicano de cada brasileiro.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz0304200508.htm


quarta-feira, 12 de maio de 2010

A estratégia do medo, artigo de Fernando Rodrigues

Artigo do excelente jornalista Fernando Rodrigues publicado na Folha, em 08/05/2010

A estratégia do medo
FERNANDO RODRIGUES

BRASÍLIA - O PT tem disseminado a noção de que só "uma pessoa que tenha a mesma visão de Lula" será capaz de fazer o Brasil progredir. A afirmação é do comercial petista de 30 segundos veiculado várias vezes na quinta-feira na TV.

A narrativa usa como alegoria a imagem de uma montanha-russa. Quando o carrinho sobe, trata-se de Lula e alguém com a "mesma visão" no comando. Na descida desembestada, as pessoas fazem cara de pânico -uma reação à oposição no poder. Ao final, uma inscrição peremptória: "O Brasil não pode voltar ao passado". É um marketing popular cuja estética se assemelha a obras do lendário diretor de filmes B Roger Corman ou à série de terror "Sexta-Feira 13".

Todos os petistas repetem o mantra à exaustão. "É Dilma ou a barbárie", profetizou nesta semana um jornal do partido. Ontem, Lula disse ser preciso não "deixar esse país regredir". Dilma Rousseff, por óbvio, estava ao seu lado.

Esse tipo de abordagem não é nova na política. Foi exatamente a mesma tática usada por Fernando Henrique Cardoso em 1998, ao tentar a reeleição. Deu certo. Na TV, o tucano era apresentado como "um líder com pulso firme num mundo turbulento". A crise econômica e a memória recente da inflação sepultaram as chances do PT.

Já em 2002, a tática fracassou. A atriz Regina Duarte foi à TV declarar ter medo de uma vitória do PT. Esforço inútil. Lula ganhou e seu marqueteiro inventou a frase "a esperança venceu o medo".

Na eleição seguinte, em 2006, o PT escanteou a esperança e preferiu usar o medo a seu favor. Espalhou de maneira eficaz a interpretação de que o PSDB privatizaria o país inteiro. Lula foi reeleito.

Agora, a história se repete parcialmente. Esta é a primeira eleição na qual a economia estará bem aquecida. Vai dar certo? Não se sabe. Mas há uma incrível similitude e alternância de discursos entre PT e PSDB nas últimas campanhas.

Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz0805201004.htm



Propaganda e política, artigo de César Maia

Artigo do "politico-marketólogo" César Maia publicado na Folha de sábado, 08/05/2010.



Propaganda e política
CESAR MAIA

UMA AMPLA pesquisa sobre eleições presidenciais nos EUA, coordenada pela professora Kathleen Jamieson e publicada em 2000, mostrou que a comunicação política mais eficaz é a comunicação de contraste. Ou seja: eu sou assim, e ele é diferente.

Em comerciais de TV, o impacto era de longe o maior quando comparado com os comerciais negativos (um candidato fala mal do outro) e os comerciais defensivos (assim chamados por Jamieson aqueles em que o candidato fala bem de si e do que fez). Para ela, os comerciais negativos criam uma incomodidade inicial, mas fixam bem mais que os comerciais defensivos. Estes são de muito baixa eficácia.

Neste início de campanha eleitoral, os dois candidatos favoritos usam a comunicação de contraste.

Um diz: compare os currículos. Outro diz: compare os governos. Ambos atuam de forma convergente com o que diz Jamieson. Por outro lado, se realmente os comerciais defensivos têm baixo impacto, não têm razão os políticos que se preocupam tanto com o apoio da imprensa a este ou àquele governo.

Na semana passada, o diretor do jornal "The New York Times", Bill Keller, mostrou sua preocupação com a imagem dos meios de comunicação pela responsabilidade na deterioração da convivência política. Thomas Jefferson dizia que, se tivesse que optar entre democracia e imprensa livre, ficaria com esta última, lembra Antonio Caño em artigo no "El País".

Diz ele que pesquisas recentes atribuem aos meios de comunicação grande parte da culpa pelo atual clima de tensão política nos EUA. Entre os nomes promotores do ódio, diz Caño, estão os jornalistas G. Beck, da Fox News, e R. Maddow, da MSNBC. Beck pela direita, e Maddow pela esquerda.

Afirma Caño que o "The Wall Street Journal" adotou um tom belicoso e parcial desde que R. Murdoch assumiu seu controle, em 2007. E registra que o jornal é o único dos 25 maiores dos EUA que aumentou sua circulação no último ano, assim como a TV de Murdoch, que passou a liderar a audiência entre as redes de notícias.

Nas conclusões de Jamieson, se os comerciais negativos são mais eficazes que os comerciais defensivos, é possível que campanhas negativas pela imprensa rendam mais leitores e audiência aos meios que as utilizam. Mas daí a concluir que além da circulação e da audiência isso afete o quadro político há enorme distância.

Grondona, em sua coluna no "La Nacion", na semana passada, lembrou que Perón disse certa vez: "Quando tivemos quase toda a imprensa contra, ganhamos, mas quando controlamos quase toda a imprensa, perdemos". Ou seja: é tão inócuo governos tentarem manipular a imprensa quanto a imprensa tentar manipular governos.


Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz0805201006.htm

terça-feira, 11 de maio de 2010

João Gilberto, 1983



Melhor do que o silêncio. João Giberto e seu canto manso, capaz de acalmar quaisquer angústias. O vídeo histórico mostra participação sua no programa Trama Radiola,TV Cultura/1983.

O nosso é um bazar de cultura

Bazar segundo Wikipedia

"Um bazar é um mercado, frequentemente coberto, comum em áreas de influência islâmica, mas não exclusivamente. O nome vem da palavra persa bāzār, que por sua vez deriva do pahlavi baha-char, que significava "o lugar dos preços".

Em um bazar podem ser encontrados vários tipos de produtos, eventualmente também objetos inusitados ou exóticos, a preços mais baixos.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Bazar