terça-feira, 8 de junho de 2010

Murilo outra vez, em texto de 1947








Murilo Rubião utiliza a personagem do mágico de circo para brincar com o leitor e provocar sua imaginação.




Este é um dos meus contos fantásticos preferidos. Trata-se do texto mais conhecido de Murilo Rubião. No conto, a história de um mágico, ou ex-mágico, muito diferente do comum: um homem entediado e que mal sabe lidar com seus truques aos quais não controla, sua vida em si é uma tragédia mágica... Imperdível. Um passeio pelo melhor estilo do mestre Rubião.



O EX-MÁGICO DA TABERNA MINHOTA



"Inclina, Senhor, o teu ouvido, e ouve-me; porque eu sou desvalido e pobre" -  Salmos. LXXXV, I


Hoje sou funcionário público e este não é o meu desconsolo maior.

Na verdade, eu não estava preparado para o sofrimento. Todo homem, ao atingir certa idade, pode perfeitamente enfrentar a avalanche do tédio e da amargura, pois desde a meninice acostumou-se às vicissitudes, através de um processo lento e gradativo de dissabores.

Tal não aconteceu comigo. Fui atirado à vida sem pais, infância ou juventude.

Um dia dei com os meus cabelos ligeiramente grisalhos, no espelho da Taberna Minhota. A descoberta não me espantou e tampouco me surpreendi ao retirar do bolso o dono do restaurante. Ele sim, perplexo, me perguntou como podia ter feito aquilo.

O que poderia responder, nessa situação, uma pessoa que não encontrava a menor explicação para sua presença no mundo? Disse-lhe que estava cansado. Nascera cansado e entediado.

Sem meditar na resposta, ou fazer outras perguntas, ofereceu-me emprego e passei daquele momento em diante a divertir a freguesia da casa com os meus passes mágicos.

O homem, entretanto, não gostou da minha prática de oferecer aos espectadores almoços gratuitos, que eu extraía misteriosamente de dentro do paletó. Considerando não ser dos melhores negócios aumentar o número de fregueses sem o conseqüente acréscimo nos lucros, apresentou-me ao empresário do Circo-Parque Andaluz, que, posto a par das minhas habilidades, propôs contratar-me. Antes, porém, aconselhou-o que se prevenisse contra os meus truques, pois ninguém estranharia se me ocorresse a idéia de distribuir ingressos graciosos para os espetáculos.

Contrariando as previsões pessimistas do primeiro patrão, o meu comportamento foi exemplar. As minhas apresentações em público não só empolgaram multidões como deram fabulosos lucros aos donos da companhia.

A platéia, em geral, me recebia com frieza, talvez por não me exibir de casaca e cartola. Mas quando, sem querer, começava a extrair do chapéu coelhos, cobras, lagartos, os assistentes vibravam. Sobretudo no último número, em que eu fazia surgir, por entre os dedos, um jacaré. Em seguida, comprimindo o animal pelas extremidades, transformava-o numa sanfona. E encerrava o espetáculo tocando o Hino Nacional da Cochinchina. Os aplausos estrugiam de todos os lados, sob o meu olhar distante.

O gerente do circo, a me espreitar de longe, danava-se com a minha indiferença pelas palmas da assistência. Notadamente se elas partiam das criancinhas que me iam aplaudir nas matinês de domingo. Por que me emocionar, se não me causavam pena aqueles rostos inocentes, destinados a passar pelos sofrimentos que acompanham o amadurecimento do homem? Muito menos me ocorria odiá-las por terem tudo que ambicionei e não tive: um nascimento e um passado.

Com o crescimento da popularidade a minha vida tornou-se insuportável.

Às vezes, sentado em algum café, a olhar cismativamente o povo desfilando na calçada, arrancava do bolso pombos, gaivotas, maritacas. As pessoas que se encontravam nas imediações, julgando intencional o meu gesto, rompiam em estridentes gargalhadas. Eu olhava melancólico para o chão e resmungava contra o mundo e os pássaros.

Se, distraído, abria as mãos, delas escorregavam esquisitos objetos. A ponto de me surpreender, certa vez, puxando da manga da camisa uma figura, depois outra. Por fim, estava rodeado de figuras estranhas, sem saber que destino lhes dar.

Nada fazia. Olhava para os lados e implorava com os olhos por um socorro que não poderia vir de parte alguma.

Situação cruciante.

Quase sempre, ao tirar o lenço para assoar o nariz, provocava o assombro dos que estavam próximos, sacando um lençol do bolso. Se mexia na gola do paletó, logo aparecia um urubu. Em outras ocasiões, indo amarrar o cordão do sapato, das minhas calças deslizavam cobras. Mulheres e crianças gritavam. Vinham guardas, ajuntavam-se curiosos, um escândalo. Tinha de comparecer à delegacia e ouvir pacientemente da autoridade policial ser proibido soltar serpentes nas vias públicas.

Não protestava. Tímido e humilde mencionava a minha condição de mágico, reafirmando o propósito de não molestar ninguém.

Também, à noite, em meio a um sono tranqüilo, costumava acordar sobressaltado: era um pássaro ruidoso que batera as asas ao sair do meu ouvido.

Numa dessas vezes, irritado, disposto a nunca mais fazer mágicas, mutilei as mãos. Não adiantou. Ao primeiro movimento que fiz, elas reapareceram novas e perfeitas nas pontas dos tocos de braço. Acontecimento de desesperar qualquer pessoa, principalmente um mágico enfastiado do ofício.

Urgia encontrar solução para o meu desespero. Pensando bem, concluí que somente a morte poria termo ao meu desconsolo.

Firme no propósito, tirei dos bolsos uma dúzia de leões e, cruzando os braços, aguardei o momento em que seria devorado por eles. Nenhum mal me fizeram. Rodearam-me, farejaram minhas roupas, olharam a paisagem, e se foram.

Na manhã seguinte regressaram e se puseram, acintosos, diante de mim.

— O que desejam, estúpidos animais?! — gritei, indignado.

Sacudiram com tristeza as jubas e imploraram-me que os fizesse desaparecer:

— Este mundo é tremendamente tedioso — concluíram.

Não consegui refrear a raiva. Matei-os todos e me pus a devorá-los. Esperava morrer, vítima de fatal indigestão.

Sofrimento dos sofrimentos! Tive imensa dor de barriga e continuei a viver.

O fracasso da tentativa multiplicou minha frustração. Afastei-me da zona urbana e busquei a serra. Ao alcançar seu ponto mais alto, que dominava escuro abismo, abandonei o corpo ao espaço.

Senti apenas uma leve sensação da vizinhança da morte: logo me vi amparado por um pára-quedas. Com dificuldade, machucando-me nas pedras, sujo e estropiado, consegui regressar à cidade, onde a minha primeira providência foi adquirir uma pistola.

Em casa, estendido na cama, levei a arma ao ouvido. Puxei o gatilho, à espera do estampido, a dor da bala penetrando na minha cabeça.

Não veio o disparo nem a morte: a máuser se transformara num lápis.

Rolei até o chão, soluçando. Eu, que podia criar outros seres, não encontrava meios de libertar-me da existência.

Uma frase que escutara por acaso, na rua, trouxe-me nova esperança de romper em definitivo com a vida. Ouvira de um homem triste que ser funcionário público era suicidar-se aos poucos.

Não me encontrava em condições de determinar qual a forma de suicídio que melhor me convinha: se lenta ou rápida. Por isso empreguei-me numa Secretaria de Estado.

1930, ano amargo. Foi mais longo que os posteriores à primeira manifestação que tive da minha existência, ante o espelho da Taberna Minhota.

Não morri, conforme esperava. Maiores foram as minhas aflições, maior o meu desconsolo.

Quando era mágico, pouco lidava com os homens -o palco me distanciava deles. Agora, obrigado a constante contato com meus semelhantes, necessitava compreendê-los, disfarçar a náusea que me causavam.

O pior é que, sendo diminuto meu serviço, via -me na contingência de permanecer à toa horas a fio. E o ócio levou -me à revolta contra a falta de um passado. Por que somente eu, entre todos os que viviam sob os meus olhos, não tinha alguma coisa para recordar? Os meus dias flutuavam confusos, mesclados com pobres recordações, pequeno saldo de três anos de vida.

O amor que me veio por uma funcionária, vizinha de mesa de trabalho, distraiu-me um pouco das minhas inquietações.

Distração momentânea. Cedo retornou o desassossego, debatia-me em incertezas. Como me declarar à minha colega? Se nunca fizera uma declaração de amor e não tivera sequer uma experiência sentimental!

1931 entrou triste, com ameaças de demissões coletivas na Secretaria e a recusa da datilógrafa em me aceitar. Ante o risco de ser demitido, procurei acautelar meus interesses. (Não me importava o emprego. Somente temia ficar longe da mulher que me rejeitara, mas cuja presença me era agora indispensável.)

Fui ao chefe da seção e lhe declarei que não podia ser dispensado, pois, tendo dez anos de casa, adquirira estabilidade no cargo.

Fitou-me por algum tempo em silêncio. Depois, fechando a cara, disse que estava atônito com meu cinismo. Jamais poderia esperar de alguém, com um ano de trabalho, ter a ousadia de afirmar que tinha dez.

Para lhe provar não ser leviana a minha atitude, procurei nos bolsos os documentos que comprovavam a lisura do meu procedimento. Estupefato, deles retirei apenas um papel amarrotado — fragmento de um poema inspirado nos seios da datilógrafa.

Revolvi, ansioso, todos os bolsos e nada encontrei.

Tive que confessar minha derrota. Confiara demais na faculdade de fazer mágicas e ela fora anulada pela burocracia.

Hoje, sem os antigos e miraculosos dons de mago, não consigo abandonar a pior das ocupações humanas. Falta-me o amor da companheira de trabalho, a presença de amigos, o que me obriga a andar por lugares solitários. Sou visto muitas vezes procurando retirar com os dedos, do interior da roupa, qualquer coisa que ninguém enxerga, por mais que atente a vista.

Pensam que estou louco, principalmente quando atiro ao ar essas pequeninas coisas.

Tenho a impressão de que é uma andorinha a se desvencilhar das minhas mãos. Suspiro alto e fundo.

Não me conforta a ilusão. Serve somente para aumentar o arrependimento de não ter criado todo um mundo mágico.

Por instantes, imagino como seria maravilhoso arrancar do corpo lenços vermelhos, azuis, brancos, verdes. Encher a noite com fogos de artifício. Erguer o rosto para o céu e deixar que pelos meus lábios saísse o arco-íris. Um arco-íris que cobrisse a Terra de um extremo a outro. E os aplausos dos homens de cabelos brancos, das meigas criancinhas.



Fonte: O ex-mágico. Rio de Janeiro: Editora Universal, 1947.


quinta-feira, 3 de junho de 2010

Boris Fausto fala da redemocratização, documentário História do Brasil, de 2002



Recorte do documentário História do Brasil, 2002, com o historiador Boris Fausto falando sobre o período da redemocratização no Brasil.

"É possível fazer a história do presente e do quase presente, isto é, de coisas que aconteceram há pouco tempo. A história imediata. Isto aproxima o historiador de um tipo de jornalismo e, deste modo, têm mais peso suas opiniões, experiências de vida e paixões". (Boris Fausto, 2002)

"A Flor de Vidro" - conto de Murilo Rubião,1965






Contista nasceu em Minas Gerais,
na cidade de Carmo de Minas.


Murilo Rubião, mestre do conto fantástico, um dos maiores autores da literatura brasileira. Sua obra contém suspense, tragédia, humor, ironia.  Aos publicitários:  Murilo é fonte inspiradora de criatividade.


A FLOR DE VIDRO


“E haverá um dia conhecido do Senhor que não será dia nem noite, e na tarde desse dia aparecerá a luz.” – Zacarias, XIV, 7.

Da flor de vidro restava somente uma reminiscência amarga. Mas havia a saudade de Marialice, cujos movimentos se insinuavam pelos campos — às vezes verdes, também cinzentos. O sorriso dela brincava na face tosca das mulheres dos colonos, escorria pelo verniz dos móveis, desprendia-se das paredes alvas do casarão. Acompanhava o trem de ferro que ele via passar, todas as tardes, da sede da fazenda. A máquina soltava fagulhas e o apito gritava: Marialice, Marialice, Marialice. A última nota era angustiante.

— Marialice!

Foi a velha empregada que gritou e Eronides ficou sem saber se o nome brotara da garganta da Rosária ou do seu pensamento.

— Sim, ela vai chegar. Ela vai chegar!

Uma realidade inesperada sacudiu-lhe o corpo com violência. Afobado, colocou uma venda negra na vista inutilizada e passou a navalha no resto do cabelo que lhe rodeava a cabeça.

Lançou-se pela escadaria abaixo, empurrado por uma alegria desvairada. Correu entre aléias de eucaliptos, atingindo a várzea.

Marialice saltou rápida do vagão e abraçou-o demoradamente:

— Oh, meu general russo! Como está lindo!

Não envelhecera tanto como ele. Os seus trinta anos, ágeis e lépidos, davam a impressão de vinte e dois — sem vaidade, sem ânsia de juventude.

Antes que chegassem a casa, apertou-a nos braços, beijando-a por longo tempo. Ela não opôs resistência e Eronides compreendeu que Marialice viera para sempre.

Horas depois (as paredes conservavam a umidade dos beijos deles), indagou o que fizera na sua ausência.

Preferiu responder à sua maneira:

— Ontem pensei muito em você.

A noite surpreendeu-os sorrindo. Os corpos unidos, quis falar em Dagô, mas se convenceu de que não houvera outros homens. Nem antes nem depois.

As moscas de todas as noites, que sempre velaram a sua insônia, não vieram.

Acordou cedo, vagando ainda nos limites do sonho. Olhou para o lado e, não vendo Marialice, tentou reencetar o sono interrompido. Pelo seu corpo, porém, perpassava uma seiva nova. Jogou-se fora da cama e encontrou, no espelho, os cabelos antigos. Brilhavam-lhe os olhos e a venda negra desaparecera.

Ao abrir a porta, deu com Marialice:

— Seu preguiçoso, esqueceu-se do nosso passeio? Contemplou-a maravilhado, vendo-a jovem e fresca. Dezoito anos rondavam-lhe o corpo esbelto. Agarrou-a com sofreguidão, desejando lembrar-lhe a noite anterior. Silenciou-o a convicção de que doze anos tinham-se esvanecido.

O roteiro era antigo, mas algo de novo irrompia pelas suas faces. A manhã mal des-pontara e o orvalho passava do capim para os seus pés. Os braços dele rodeavam os ombros da namorada e, amiúde, interrompia a caminhada para beijar-lhe os cabelos. Ao se aproximarem da mata — termo de todos os seus passeios — o sol brilhava intenso. Largou-a na orla do cerrado e penetrou no bosque. Exasperada, ela acompanhava-o com dificuldade:

— Bruto! Ó bruto! Me espera!

Rindo, sem voltar-se, os ramos arranhando o seu rosto, Eronides desapareceu por entre as árvores. Ouvia, a espaços, os gritos dela:

— Tomara que um galho lhe fure os olhos, diabo!

De lá, trouxe-lhe uma flor azul.

Marialice chorava. Aos poucos acalmou-se, aceitou a flor e lhe deu um beijo rápido. Eronides avançou para abraçá-la, mas ela escapuliu, correndo pelo campo afora.

Mais adiante tropeçou e caiu. Ele segurou-a no chão, enquanto Marialice resistia, puxando-lhe os cabelos.

A paz não tardou a retornar, porque neles o amor se nutria da luta e do desespero.

Os passeios sucediam-se. Mudavam o horário e acabavam na mata. Às vezes, pensando ter divisado a flor de vidro no alto de uma árvore, comprimia Marialice nos braços. Ela assustava-se, olhava-o silenciosa, à espera de uma explicação. Contudo, ele guardava para si as razões do seu terror.

O final das férias coincidiu com as últimas chuvas. Debaixo de tremendo aguaceiro, Eronides levou-a à estação.

Quando o trem se pôs em movimento, a presença da flor de vidro revelou-se imediatamente. Os seus olhos se turvaram e um apelo rouco desprendeu-se dos seus lábios.

O lenço branco, sacudido da janela, foi a única resposta. Porém os trilhos, paralelos, sumindo-se ao longe, condenavam-no a irreparável solidão.

Na volta, um galho cegou-lhe a vista.



Fonte: RUBIÃO, MURILO. A Flor de Vidro. In O Pirotécnico Zacarias. 16ª ed. São Paulo, Ática, 1993.

Conheça http://www.murilorubiao.com.br/.

"A felicidade está ligada à expressão de valores através da ação", entrevista com Eduardo Gianetti, em 2005



Prof. Eduardo Gianetti da Fonseca


Desde o final da década de 70, época em que estudava Economia na USP (onde se formou) e se sentia atraído pelas aulas de Filosofia na Faculdade de Ciências Sociais (onde também se graduou, em 1980), Eduardo Giannetti da Fonseca, PhD em Economia pela Universidade de Cambridge (Inglaterra), se debruça sobre a questão da "Felicidade". E tem dedicado muito do seu tempo para mostrar a diferentes públicos que ela é um dos ingredientes principais do sucesso, "não só do indivíduo, como também das organizações empresariais". Casado, pai de um filho e autor consagrado - escreveu sucessos como "Auto-Engano", traduzido em cinco línguas, inclusive japonês, e, claro, "Felicidade" - Giannetti faz questão de lembrar que a Economia surgiu prometendo ao Homem a "Felicidade". "Ela é um instrumento que deveria liberar o homem para perseguir fins primordiais como a realização, a felicidade e a criação", salienta.

O tema de seu próximo livro também não poderia ser mais atual - "Abordagem Filosófica sobre os Juros" deverá estar nas livrarias até o final do ano. Giannetti concedeu uma entrevista especial ao Monsanto Em Campo para, mais uma vez, mostrar que "Felicidade" e Sucesso são duas faces da mesma e única moeda.


É possível definir felicidade?

Cada ser humano tem o seu sonho e a sua noção própria do que é melhor para a sua vida. Não tenho a pretensão de responder em nome de outras pessoas, apenas a de contribuir para organizar a maneira como as pessoas pensam a sua felicidade.


Qual a diferença entre estar feliz e ser feliz?

Estar feliz é um sentimento, pré-reflexivo, é alegria, contentamento, uma sensação de bem-estar. Ser feliz é uma avaliação acerca de um caminho, de um plano de vida, envolvendo análise do caminho da existência no tempo em muitas dimensões - afetiva, profissional, espiritual.


Qual a importância da felicidade para a realização profissional e para o sucesso da empresa?

Aristóteles já dizia que o prazer aperfeiçoa a atividade. Há uma dinâmica de retro-alimentação já que, ao fazer o que gosta, a pessoa se aperfeiçoa continuamente. E isso se aplica não só ao indivíduo, à atividade individual prazerosa, mas também ao clima organizacional - que tem de ser satisfatório, abrir espaço para a realização e para o contentamento.

Com o começo da realização de estudos empíricos sobre o bem-estar subjetivo nos anos 90, a grande novidade que veio à tona é que as pessoas que se sentem bem, trabalham melhor; pessoas que se dizem felizes faltam menos ao trabalho. E uma grande descoberta foi a de que o consumo não satisfaz a busca da "Felicidade". A "Felicidade" está ligada à ação - por meio da qual as pessoas mostram seus valores e sua criatividade. Isso, na ótica da pessoa. Na ótica da empresa, a "Felicidade" permite mobilizar o que de melhor as pessoas têm.


Como as empresas podem proporcionar esse clima organizacional favorável?

Há uma série de fatores que podem contribuir para isso. O respeito pelo outro - e pelo tempo do outro - é um deles. As pessoas têm tempos diferentes, inclusive de maturação. E é preciso pensar o porquê da tecnologia (e-mails coletivos, Internet, etc) não estar proporcionando, como deveria, mais tempo para as pessoas. Não estamos "domando" a tecnologia e sim acelerando o tempo sem redundar em qualidade de vida e trabalho.

Uma das grandes urgências deveria ser, justamente, a de classificar corretamente a "urgência" de tarefas. Outro fator relevante é a confiança interpessoal - uma variável de primeira ordem. Todos estão no mesmo time, e o sucesso de um não pode depender da destruição do outro. É um erro estimular a competição destrutiva.


Quais os prejuízos decorrentes do trabalho "alienado"?

A felicidade está ligada à ação, à expressão de valores através da ação. Para a empresa, o trabalho alienado não é um bom negócio. E torna a vida do indivíduo, do funcionário, um verdadeiro tormento - ele não reage, não produz, não cria, não desenvolve seus talentos. O mundo atual, com enorme competição e mudanças tecnológicas constantes e rápidas, exige o que de melhor a pessoa tem em recursos humanos e conhecimento. Da mesma forma que a pessoa precisa se sentir integrada ao mundo, o membro de uma organização precisa se sentir integrado - caso contrário não mobiliza o que conhece. O trinômio trabalho/eficiência/realização profissional depende disso.


A realização pessoal é fundamental para o sucesso da organização?

No pós-guerra, pesquisas feitas por economistas, estimando a importância do capital humano (talento aprimorado pela educação) para o desenvolvimento e competitividade empresarial, mostraram que o capital humano (talento) e o investimento na qualificação são fundamentais para o sucesso. A eficiência e a mobilização dos talentos dispersos na empresa podem resultar nos ganhos de produtividade que farão a diferença nos resultados globais da empresa. A produtividade (relação insumo/produto) está crescendo 3,5% ao ano, o que leva uma empresa a dobrar de tamanho em 20 anos. Se as pessoas, felizes, fazem um esforço maior, e essa produtividade melhora para 5% ao ano, a empresa pode dobrar de tamanho em 14 anos. A empresa também tem que dar espaço para a realização dos valores das pessoas.

Em síntese: a realização plena das pessoas no mundo do trabalho tornou-se uma exigência econômica de um mundo altamente competitivo e com mudanças tecnológicas rápidas e constantes. Conclusão: há uma convergência entre as necessidades das pessoas e das empresas.


Como líderes de pessoas devem agir?

O líder tem de ter humildade, aprender e desejar continuar a aprender. Tem de saber ouvir, lidar com situações. Tem de saber que vai errar e ter capacidade de aprender com o erro. A grande capacidade do líder é a de aprender com a falha. O dom do líder é o de mobilizar o que de melhor existe em cada um para oferecer para a organização.


Qual o maior desafio na gestão de pessoas?

Colocar a pessoa certa no lugar certo. Existe pluralidade de talentos entre as pessoas e é preciso encontrar o espaço adequado para cada uma delas. O maior desafio é permitir que ela encontre seu espaço dentro das funções pré-definidas. A função do líder é fazer a pessoa revelar, a si própria e aos outros, o que ela tem de melhor. Para isso, ele tem de ser capaz de ver, de descobrir o potencial e os talentos das pessoas. Não é simples. O líder tem de ter a percepção de onde a pessoa pode encontrar a sua realização e não "dar exemplo a ser seguido" de felicidade.


Fonte: http://www.monsanto.com.br/monsanto/brasil/newsletter/geral/03_2005maio/edi01_noticia_afelicidade.asp

Debate entre José Aníbal-PSDB e Wellington Dias-PT, 2o. Turno 2002


Ouça abaixo o áúdio do debate ocorrido entre José Anibal e Wellington Dias, na rádio CBN , em 24 de outubro de 2002, em meio ao 2o. turno da eleição presidencial daquele ano. Na mediação, o brilhante jornalista Heródoto Barbeiro.



O Deputado Federal José Anibal, então presidente do PSDB, critica o "promessismo" do PT. Wellington Dias, a época governador eleito do Piauí diz que Lula é quem "mais conhece o Brasil".

Perceba que o discurso de Aníbal tem elementos do atual discurso de Serra para as eleições de outubro próximo, como "fazer mais", "criação do ministério da segurança pública". Aníbal expõe um discurso técnico e crítico às posturas históricas do PT.

Já Wellington, faz uma fala voltada para o emocional, ressaltando a legitimidade de Lula para fazer as "mudanças".

A histórica disputa da razão vs. emoção, presente na polarização PSDB vs. PT permanece ainda hoje em nossa política.

Fonte: http://cbn.globoradio.globo.com/grandescoberturas/ELEICOES-PRESIDENCIAIS-2002.htm#