quinta-feira, 3 de junho de 2010

"A felicidade está ligada à expressão de valores através da ação", entrevista com Eduardo Gianetti, em 2005



Prof. Eduardo Gianetti da Fonseca


Desde o final da década de 70, época em que estudava Economia na USP (onde se formou) e se sentia atraído pelas aulas de Filosofia na Faculdade de Ciências Sociais (onde também se graduou, em 1980), Eduardo Giannetti da Fonseca, PhD em Economia pela Universidade de Cambridge (Inglaterra), se debruça sobre a questão da "Felicidade". E tem dedicado muito do seu tempo para mostrar a diferentes públicos que ela é um dos ingredientes principais do sucesso, "não só do indivíduo, como também das organizações empresariais". Casado, pai de um filho e autor consagrado - escreveu sucessos como "Auto-Engano", traduzido em cinco línguas, inclusive japonês, e, claro, "Felicidade" - Giannetti faz questão de lembrar que a Economia surgiu prometendo ao Homem a "Felicidade". "Ela é um instrumento que deveria liberar o homem para perseguir fins primordiais como a realização, a felicidade e a criação", salienta.

O tema de seu próximo livro também não poderia ser mais atual - "Abordagem Filosófica sobre os Juros" deverá estar nas livrarias até o final do ano. Giannetti concedeu uma entrevista especial ao Monsanto Em Campo para, mais uma vez, mostrar que "Felicidade" e Sucesso são duas faces da mesma e única moeda.


É possível definir felicidade?

Cada ser humano tem o seu sonho e a sua noção própria do que é melhor para a sua vida. Não tenho a pretensão de responder em nome de outras pessoas, apenas a de contribuir para organizar a maneira como as pessoas pensam a sua felicidade.


Qual a diferença entre estar feliz e ser feliz?

Estar feliz é um sentimento, pré-reflexivo, é alegria, contentamento, uma sensação de bem-estar. Ser feliz é uma avaliação acerca de um caminho, de um plano de vida, envolvendo análise do caminho da existência no tempo em muitas dimensões - afetiva, profissional, espiritual.


Qual a importância da felicidade para a realização profissional e para o sucesso da empresa?

Aristóteles já dizia que o prazer aperfeiçoa a atividade. Há uma dinâmica de retro-alimentação já que, ao fazer o que gosta, a pessoa se aperfeiçoa continuamente. E isso se aplica não só ao indivíduo, à atividade individual prazerosa, mas também ao clima organizacional - que tem de ser satisfatório, abrir espaço para a realização e para o contentamento.

Com o começo da realização de estudos empíricos sobre o bem-estar subjetivo nos anos 90, a grande novidade que veio à tona é que as pessoas que se sentem bem, trabalham melhor; pessoas que se dizem felizes faltam menos ao trabalho. E uma grande descoberta foi a de que o consumo não satisfaz a busca da "Felicidade". A "Felicidade" está ligada à ação - por meio da qual as pessoas mostram seus valores e sua criatividade. Isso, na ótica da pessoa. Na ótica da empresa, a "Felicidade" permite mobilizar o que de melhor as pessoas têm.


Como as empresas podem proporcionar esse clima organizacional favorável?

Há uma série de fatores que podem contribuir para isso. O respeito pelo outro - e pelo tempo do outro - é um deles. As pessoas têm tempos diferentes, inclusive de maturação. E é preciso pensar o porquê da tecnologia (e-mails coletivos, Internet, etc) não estar proporcionando, como deveria, mais tempo para as pessoas. Não estamos "domando" a tecnologia e sim acelerando o tempo sem redundar em qualidade de vida e trabalho.

Uma das grandes urgências deveria ser, justamente, a de classificar corretamente a "urgência" de tarefas. Outro fator relevante é a confiança interpessoal - uma variável de primeira ordem. Todos estão no mesmo time, e o sucesso de um não pode depender da destruição do outro. É um erro estimular a competição destrutiva.


Quais os prejuízos decorrentes do trabalho "alienado"?

A felicidade está ligada à ação, à expressão de valores através da ação. Para a empresa, o trabalho alienado não é um bom negócio. E torna a vida do indivíduo, do funcionário, um verdadeiro tormento - ele não reage, não produz, não cria, não desenvolve seus talentos. O mundo atual, com enorme competição e mudanças tecnológicas constantes e rápidas, exige o que de melhor a pessoa tem em recursos humanos e conhecimento. Da mesma forma que a pessoa precisa se sentir integrada ao mundo, o membro de uma organização precisa se sentir integrado - caso contrário não mobiliza o que conhece. O trinômio trabalho/eficiência/realização profissional depende disso.


A realização pessoal é fundamental para o sucesso da organização?

No pós-guerra, pesquisas feitas por economistas, estimando a importância do capital humano (talento aprimorado pela educação) para o desenvolvimento e competitividade empresarial, mostraram que o capital humano (talento) e o investimento na qualificação são fundamentais para o sucesso. A eficiência e a mobilização dos talentos dispersos na empresa podem resultar nos ganhos de produtividade que farão a diferença nos resultados globais da empresa. A produtividade (relação insumo/produto) está crescendo 3,5% ao ano, o que leva uma empresa a dobrar de tamanho em 20 anos. Se as pessoas, felizes, fazem um esforço maior, e essa produtividade melhora para 5% ao ano, a empresa pode dobrar de tamanho em 14 anos. A empresa também tem que dar espaço para a realização dos valores das pessoas.

Em síntese: a realização plena das pessoas no mundo do trabalho tornou-se uma exigência econômica de um mundo altamente competitivo e com mudanças tecnológicas rápidas e constantes. Conclusão: há uma convergência entre as necessidades das pessoas e das empresas.


Como líderes de pessoas devem agir?

O líder tem de ter humildade, aprender e desejar continuar a aprender. Tem de saber ouvir, lidar com situações. Tem de saber que vai errar e ter capacidade de aprender com o erro. A grande capacidade do líder é a de aprender com a falha. O dom do líder é o de mobilizar o que de melhor existe em cada um para oferecer para a organização.


Qual o maior desafio na gestão de pessoas?

Colocar a pessoa certa no lugar certo. Existe pluralidade de talentos entre as pessoas e é preciso encontrar o espaço adequado para cada uma delas. O maior desafio é permitir que ela encontre seu espaço dentro das funções pré-definidas. A função do líder é fazer a pessoa revelar, a si própria e aos outros, o que ela tem de melhor. Para isso, ele tem de ser capaz de ver, de descobrir o potencial e os talentos das pessoas. Não é simples. O líder tem de ter a percepção de onde a pessoa pode encontrar a sua realização e não "dar exemplo a ser seguido" de felicidade.


Fonte: http://www.monsanto.com.br/monsanto/brasil/newsletter/geral/03_2005maio/edi01_noticia_afelicidade.asp

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