quinta-feira, 14 de outubro de 2010

"Pronominais", um poema de Oswald de Andrade, de 1925


 
Oswald de Andrade inovou
    no estilo de escrita e nos temas abordados


Abaixo um dos mais conhecidos poemas de Oswald de Andrade, um dos líderes do movimento modernista de nossa literatura. O poema faz uma inovação para a época: os versos livres sem rima e sem métrica.

O texto foi extraído do livro "Pau-Brasil", lançado originalmente em 1925, em Paris. Antes porém, foi publicado parcialmente nas páginas do jornal Correio da Manhã, em março de 1924.


PRONOMINAIS

Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro.

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Pelé dedicou seu milésimo gol às crianças do Brasil, em 1969



Noite de 19 de novembro de 1969. Maracanã lotado, com um público de 65.157 pagantes que foi assistir ao confronto entre Vasco e Santos, em jogo válido pelo Torneio Roberto Gomes Pedrosa (correspondente ao nosso campeonato brasileiro atual).

Aos 33 minutos do segundo tempo o volante Clodoaldo lançou Pelé dentro da área, que foi derrubado pelo zagueiro do Vasco Renê. Pênalti. Pelé cobra com perfeição no canto esquerdo do goleiro Andrada, de nacionalidade argentina. Andrada, furioso, chega a esmurrar o chão (Off: imagina se o Andrada pega! É festa na Argentina...). O gol deu a vitória de 2 a 1 para o Santos.

Consumada a cobraça do pênalti o estádio "veio abaixo" em emoção e foi inevitável a invasão do gramado pela imprensa esportiva. Até quem não era santista vibrou. Pelé, emocionado, é carregado pelos braços para o centro do campo e pede frente às câmeras: "vamos proteger as criancinhas necessitadas". Simbolicamente, o atleta do século ofertou naquele momento sua obra máxima. E não qualquer obra: o gol, que em nossa cultura traz consigo a força da alegria do povo.  

Posteriormente, Edson Arantes do Nascimento engajou-se em campanhas educacionais tendo, inclusive, enveredado pelo caminho musical ao gravar a conhecida canção "ABC", cujo refrão defende: "toda criança tem que ler e escrever" (ouça em http://bit.ly/cIAF1n)(off: ok gente vamos lá, a intenção foi verdadeiramente sublime).  

Pelé, ídolo das massas, tornou-se também embaixador para Ecologia e Meio ambiente (ONU,1992), embaixador da Boa Vontade (UNESCO,1993), embaixador para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco,1994) e durante o primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso foi Ministro dos Esportes, entre os anos 1995 e 1998.

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Leia abaixo trecho do capítulo IV do livro autobiográfico "Pelé: Minha Vida em Imagens" (Editora Cosac Naify, lançado este ano)

"Corri para a marca, dei uma paradinha, e chutei.

Goooooooool!

Corri direto para o fundo da rede, peguei a bola e dei um beijo nela. O estádio explodiu, com
rojões e aplausos. De repente fui cercado por uma multidão de jornalistas e repórteres. Colocaram
microfones na minha frente e eu então dediquei aquele gol às crianças do Brasil. Disse que
tínhamos de dar atenção para as criancinhas. Comecei, então, a chorar, fui colocado sobre os
ombros de alguém e ergui a bola para o alto. O jogo foi suspenso por vinte minutos, enquanto eu
dava uma volta olímpica. Alguns torcedores do Vasco correram em minha direção e me deram uma
camisa do time com o número 1000. Achei estranho, mas não tive alternativa a não ser vesti-la ali
mesmo.

Por que falei das criancinhas? Naquele dia, era aniversário de minha mãe, então talvez eu devesse
dedicar o gol a ela. Não sei por que não pensei nisso. Mas, diferentemente, na hora, pensei nas
crianças. O que aconteceu foi que me lembrei de um acidente que tinha acontecido em Santos alguns
meses antes. Eu tinha saído do treino um pouco mais cedo e vi alguns garotos tentando roubar um
carro que estava perto do meu. Eram muito pequenos, do tipo para quem se costuma dar um
dinheirinho para tomar conta do carro. Chamei a atenção deles para o que faziam, e eles replicaram
que eu não precisava me preocupar pois só roubariam carros com placas de São Paulo. Mandei-os sair
dali, dizendo que eles não roubariam carro de nenhum lugar. Lembro-me de ter comentado sobre isso,
mais tarde, com um companheiro de time, sobre a dificuldade de se crescer e educar no Brasil. Já
então me preocupava com a questão da educação das crianças, e essa foi a primeira coisa que surgiu
em minha cabeça quando marquei o gol.

Acho que muita gente não entendeu o que eu estava querendo dizer. Fui um pouco criticado, com
pessoas me chamando de demagogo. Achavam que eu não tinha sido sincero. Mas isso não me incomodou.
Acredito ser importante que pessoas como eu mandem mensagens sobre a questão da educação. Não
haverá futuro se você não educar os jovens. Hoje, quando você anda pelo Brasil e vê os problemas
que temos, com gente morando nas ruas e gangues em ação, elas também já foram crianças. Agora
dizem que o Pelé estava certo. Não tenho medo de falar com o coração."




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